Pesava o corpo solto na constelação de sentidos, macio da cama, ímpeto febril de partir noite adentro. Embalava o inconsciente a alma leve.
Lili escuta um chamado e responde:
- Quero.
Espontânea e imprudente alternância entre vigília e inconsciente, Lili abandona a lucidez.
Vastidão. Imenso. A respiração se ausenta. Voltava. Partia.
- Quero.
Deixa-se ir, volta a si, dança suspensa num balé de silêncio, entorpecida no vácuo verde escuro, azul ilícito. Volta. Vai.
Lili se transporta, sumidouro de vultos: líquido, aqui. Vagalume, era de antes e de depois. Agora lá. Inteira, braile, vidro de esmalte. Aqui. Molhado. De novo lá.
Ausenta-se na rota etérea que se vincula de si para o outro lado, caminho fulgurante de pontos luminosos. Lugar certo de partida, inexatidão de destino.
Sim. Lili agora sente uma presença eterna. Tangível, que sabe dela tanto mais que ela mesma. Estava lá sempre. Como não percebia? O vulto se define a cada ida. Estende a mão. A cada breve encontro, lapso de encontro. Ela vai. Agora já pode sentir o cheiro. O gosto. Que já sabia.
- Quero.
Precipita-se na bruma e escoa no avesso do aqui. Em braços que embalam sua jornada, reverbera no infinito.
Lili adormece.
- Quero...
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