Era uma vez, num reino tão tão distante, do outro lado do lago, um Príncipe, que estava com o coração vazio e escuro. E havia uma Princesa
que vivia na tristeza, do lado de cá do lago, numa torre alta altíssima, nada
nem ninguém nunca tinha subido lá. Não havia portas na
torre, só uma janela. Era cercada por um formoso jardim, onde sonhava
estar quando seu coração estivesse aquecido e feliz.
A bruxa má a condenara a viver ali até que um Príncipe molhado a
flechasse.
A Princesa sabia que isso era impossível. Ela sabia que
existiam Príncipes, mas os Príncipes molhados eram improváveis. Eles não saem de seus
castelos quando chove. Também jamais cogitam molhar seus cavalos.
A prisão a que estava condenada era feita mais de dias de
sol e de guarda-chuvas do que de concreto. A Princesa brincava com sua bola de
ouro, no alto mais alto da torre escura.
Certo dia o Príncipe, em uma de suas caçadas, se distraiu e
desviou sua rota, justamente num dia em que uma tempestade se aproximava.
Cavalgou muito, estava cansado e sem dormir há muito tempo.
E a chuva começou. O Príncipe , desnorteado,
correu para se abrigar da chuva na aba de uma torre (existe isso?) que avistou no caminho. Estava com
as flechas armadas. Quando se encostou na parede da torre, uma flecha disparou.
Então, quis o acaso que a Princesa estivesse na janela olhando
a chuva naquele instante, porque ela tinha um especial fascínio pelo barulho da
chuva e pelos relâmpagos. E pela obra do destino, foi atingida pela flecha do Príncipe
molhado.
Seu ferimento ardeu. E ardia tanto, tanto, que toda ela era
calor e sua febre derreteu sua bola de ouro e derreteu seu quarto e as paredes
do quarto e as paredes da torre inviolável.
E ela encontrou o Príncipe molhado, cansado e com medo,
dentro de seu jardim encantado.
E o calor que emanava dela esquentou o coração
vazio e escuro do Príncipe, que, libertando a Princesa, libertou seu próprio
coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário