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Se você alucina ou delira nos momentos em que devia raciocinar, por favor, não deixe de me avisar!

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"A minha Alucinação é enfrentar o dia-a-dia e o meu delírio é a experiência com coisas reais..." (Belchior)

MUDA



A incapacidade de emitir um som traduzia um vão seu e foi apossando-se dela um sentido de que havia somente ausência em si. O silêncio não mais a incomodava, sentia-o integrado a si mesma. Era agora impossível determinar se a voz não lhe saía da boca por incompetência ou recusava-se a falar porque acreditava que nada havia a ser dito.

Então o que havia se esquecido de esperar aconteceu. A garganta murmurou notas tartamudas, articuladas pela língua em sintonia com os lábios, por onde pode perceber atravessar toda uma existência muda, intensa, viva e presente. Ecoa a vibração nunca expressa. Emana o que esteve preso, acreditado morto ou mutilado. O balbuciar foi capaz de alcançar os domínios da indiferença quando, simultaneamente, escapava da boca e atravessava os tímpanos. A quem pode ferir mais? A quem emana a palavra ou a quem a ouve? Fato é que as palavras, ditas ou implícitas, precisam repercutir, constituir sentido, além do intencional, o receptivo.

E calar pode ser mais eloquente que dizer. A mudez pode ser menos sofrida, mais cômoda e menos beligerante do que a boca no trombone.

Diante da falta de opção, calar traduziu sempre uma incapacidade de manifestação.

Agora que a voz saiu, é preciso optar entre falar ou calar. E sempre que se instala uma condição de escolha, há uma procura desesperada por alternativas que sabemos que nos levarão a caminhos antes não cogitados.

Que força tem ou quer ter uma voz que pode, somente a partir de agora, incorporar tudo o que sempre esteve sob a privacidade do silêncio por falta de condição de compartilhar? Muda por impotência ou por incompetência. Quem percebe a diferença? Quem está disposto ouvir o grito?

2 comentários:

  1. Oi, amiga,
    Sou apenas uma internauta, caçando emoções virtuais. Bacana o blog.
    Achei linda a sua expressão tão objetiva de coisas tão difíceis como sentimentos. Você faz algumas perguntas meio inquietantes, acho que pra todo mundo. Faço algumas considerações que talvez sirvam em alguma medida para as suas considerações, segundo meu entendimento:
    A impotência é um sentimento imobilizante, da qual brota o sentimento de incompetência. No entanto a incompetência resulta de circunstâncias, e estas podem sempre ser alteradas, seja por si mesmas, com o tempo, ou pelas nossas intervenções. Não sei o que é melhor ou pior. Esperar ou agir. Você que esperou tanto tempo já, talvez já alcance esta resposta.
    Quanto a ser mais dolorido ouvir ou falar...só quem ouve ou quem fala pode medir a extensão em si mesmo. E geralmente sempre achamos que somos nós os mais feridos, estejamos falando, ou ouvindo. A parte mais difícil, no entanto, é falar e ouvir a si mesmo, primeiro. Por isto, quem precisa se dispor primeiro a ouvir o grito (e levá-lo em consideração) é quem o emite. Legal isto das coisas soterradas por tanto tempo ganharem voz, como murmúrios. Mas acho que foram murmúrios apenas porque você ainda não expressou para fora de si. Entretanto, acho que pra você mesma, já foi um grande grito, preso por circunstâncias. Por isto eu mnudaria o título para 'O grito", e não 'Muda". Você já não está mais muda pra você mesma. É o começo nunca cogitado, mas certamente lindo, libertador. A porta se abriu...

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  2. Lindo texto. É realmente tocante.Me encanta tanta capacidade de expressão.Que talento filha .Parabéns .A mudez realmente é mais cômoda,mas o sofrimento que se esconde nesta mudez,talvez seja bem pior do que ela,muda por impotencia na maioria das vezes.muda por medo de procurar alternativas que caiam no vazio da incompreensão humana bjus Rô ,te amo tia Vera stein

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