- Angela Rosana
- "A minha Alucinação é enfrentar o dia-a-dia e o meu delírio é a experiência com coisas reais..." (Belchior)
Encontro
Tinha a sensação de que um dia ia se esquecer de respirar.
Inspira, expira. Inspira, expira. Inspira, expira. Para.
O ar que aspirava percorria estritamente o estritamente necessário trajeto fisiológico e, não raro, se percebia apnéica. Este estado de suspensão podia durar segundos ou minutos e paralisava toda a sua existência. Sua alma se desprendia do calabouço de seu corpo, inerte, então. Um lapso de tempo em que seu corpo se autossustentava.
Inspira, expira. Inspira, expira. Para.
Permitia a navegabilidade do ar e reinaugurava os pulmões depois de cada suspensão. A parada metaforizava um ferrolho - ao inverso. No limbo, o mapa dos significados que eram indecifráveis tornava-se nítido, límpido. Sabia que pertencia ao inconsciente a autoridade sobre seu pulsar, porém, havia momentos em que impunha a si toda responsabilidade por uma eventual falha no processo.
Inspira, expira. Para.
O movimento do ar traduzido no sopro de vento, sustentava, ainda que ilusoriamente, a sua sobrevivência inerte. O mundo e ela comungavam do mesmo fôlego: o vento. A inevitabilidade do aspirar e expelir era implacável e necessária e, naqueles intervalos, permanecia e celebrava a vida no seu próprio hálito.
Para.
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